Ação de imersão aconteceu no campus da Ulbra Canoas com a ONG Caminhadores
30 minutos na pele de um cego: alunos participam de caminhada inclusiva
Foi na completa penumbra, confiando apenas nas orientações de um guia e no próprio tato, que o estudante de Psicologia, Willian Dias Spinozza, conseguiu completar o desafio da caminhada inclusiva, realizada no campus Canoas, na última sexta-feira, 26 de agosto. A ação, promovida pelo Programa Permanente de Acessibilidade da Universidade (PPA), foi realizada durante o terceiro dia de atividades da 3ª Semana Ulbra da Pessoa com Deficiência. A iniciativa contou com a participação de membros da ONG Caminhadores RS, projeto social que há mais de dez anos busca oportunizar às pessoas com deficiência (PCDs) o prazer da prática esportiva, do lazer ao ar livre e do ecoturismo em regiões de preservação ambiental.
Na ocasião, Spinozza e outras oito pessoas foram vendadas e, com o auxílio de um cabo-guia e de outros oito colegas que atuaram como videntes, participaram de um breve passeio pelas imediações do prédio 1 da Unidade. Durante 30minutos, o grupo atravessou o pórtico de entrada e subiu escadas, rampas de acesso, pistas de concreto e canteiros de terra que permeiam o centro cívico da Instituição. Algo muito simples, se não fosse a privação da visão. "Foi uma experiência humanizadora e de superação. Tanto pela perda de referências, por não saber se situar geograficamente, quanto pela confiança depositada nos colegas que estavam enxergando", relata Spinozza que também trabalha como vigia do campus.
Mais do que mostrar para a comunidade acadêmica o que cegos e deficientes visuais enfrentam cotidianamente em decorrência de suas condições, a ação de imersão buscou proporcionar uma reflexão sobre o processo de inclusão social em si, como explica um dos organizadores do evento, o presidente da Caminhadores RS e Analista Técnico da Gerência de Cultura, Esporte e Lazer do SESI, Rotechild Prestes. "Hoje, é importante pensarmos em reabilitação para além de uma vida adaptada, para que possamos apontar outros caminhos, proporcionando, por exemplo, condições para que um cego possa não apenas ter noção espacial e voltar a se locomover, mas para que ele consiga tornar-se um atleta, ator ou profissional atuante no mercado de trabalho", explica o ativista, que possui uma prótese no pé esquerdo e, através do esporte, conseguiu superar as limitações de sua mobilidade reduzida.
Um passeio silencioso e no escuro
Colaboradora da Ulbra há pouco mais de um ano e meio, Larissa Bassei convive com o silêncio diariamente. Surda desde o nascimento, a educadora natural de São Leopoldo (RS) leciona Língua Brasileira de Sinais (Libras) para turmas de alunos universitários, mas foi na caminhada inclusiva que encontrou um desafio ainda maior do que o vivenciado diariamente: o de se colocar no papel de um surdo-cego. "Se a pessoa não enxerga, consegue ainda se guiar pelos barulhos e sons a sua volta, mas se ela também não ouve, é muito mais difícil. Acho que é possível se adaptar a essa condição, mas deve levar algum tempo", avaliou a docente que já conviveu com surdo-cegos e teve de utilizar o tato para se comunicar com eles.
Após o término do exercício, Prestes recolheu as vendas e desmontou o equipamento utilizado, ao mesmo tempo em que ponderava sobre o custo das tecnologias assistivas no país, em especial das bengalas com comando de voz, utensílio ainda em fase de testes, mas que deve chegar ao mercado nacional em breve. "Muita gente argumenta que o preço desse tipo de equipamento é elevado, mas é preciso relativizar esse tipo de afirmação. A minha prótese no pé não é cara, se me permite fazer tudo o que faço, ela se paga sozinha", garantiu o palestrante.
A 3ª Semana Ulbra da Pessoa com Deficiência acontece até o dia 31 de agosto, com uma programação variada. Entre as atrações estão oficinas, rodas de conversas e aulas de ritmos para PCDs.
Confira a programação completa em site ulbra.br/semana-pessoa-com-deficiencia/.
Marcus de Freitas Perez
Jornalista MTb 17.602
Foi na completa penumbra, confiando apenas nas orientações de um guia e no próprio tato, que o estudante de Psicologia, Willian Dias Spinozza, conseguiu completar o desafio da caminhada inclusiva, realizada no campus Canoas, na última sexta-feira, 26 de agosto. A ação, promovida pelo Programa Permanente de Acessibilidade da Universidade (PPA), foi realizada durante o terceiro dia de atividades da 3ª Semana Ulbra da Pessoa com Deficiência. A iniciativa contou com a participação de membros da ONG Caminhadores RS, projeto social que há mais de dez anos busca oportunizar às pessoas com deficiência (PCDs) o prazer da prática esportiva, do lazer ao ar livre e do ecoturismo em regiões de preservação ambiental.
Na ocasião, Spinozza e outras oito pessoas foram vendadas e, com o auxílio de um cabo-guia e de outros oito colegas que atuaram como videntes, participaram de um breve passeio pelas imediações do prédio 1 da Unidade. Durante 30minutos, o grupo atravessou o pórtico de entrada e subiu escadas, rampas de acesso, pistas de concreto e canteiros de terra que permeiam o centro cívico da Instituição. Algo muito simples, se não fosse a privação da visão. "Foi uma experiência humanizadora e de superação. Tanto pela perda de referências, por não saber se situar geograficamente, quanto pela confiança depositada nos colegas que estavam enxergando", relata Spinozza que também trabalha como vigia do campus.
Mais do que mostrar para a comunidade acadêmica o que cegos e deficientes visuais enfrentam cotidianamente em decorrência de suas condições, a ação de imersão buscou proporcionar uma reflexão sobre o processo de inclusão social em si, como explica um dos organizadores do evento, o presidente da Caminhadores RS e Analista Técnico da Gerência de Cultura, Esporte e Lazer do SESI, Rotechild Prestes. "Hoje, é importante pensarmos em reabilitação para além de uma vida adaptada, para que possamos apontar outros caminhos, proporcionando, por exemplo, condições para que um cego possa não apenas ter noção espacial e voltar a se locomover, mas para que ele consiga tornar-se um atleta, ator ou profissional atuante no mercado de trabalho", explica o ativista, que possui uma prótese no pé esquerdo e, através do esporte, conseguiu superar as limitações de sua mobilidade reduzida.
Um passeio silencioso e no escuro
Colaboradora da Ulbra há pouco mais de um ano e meio, Larissa Bassei convive com o silêncio diariamente. Surda desde o nascimento, a educadora natural de São Leopoldo (RS) leciona Língua Brasileira de Sinais (Libras) para turmas de alunos universitários, mas foi na caminhada inclusiva que encontrou um desafio ainda maior do que o vivenciado diariamente: o de se colocar no papel de um surdo-cego. "Se a pessoa não enxerga, consegue ainda se guiar pelos barulhos e sons a sua volta, mas se ela também não ouve, é muito mais difícil. Acho que é possível se adaptar a essa condição, mas deve levar algum tempo", avaliou a docente que já conviveu com surdo-cegos e teve de utilizar o tato para se comunicar com eles.
Após o término do exercício, Prestes recolheu as vendas e desmontou o equipamento utilizado, ao mesmo tempo em que ponderava sobre o custo das tecnologias assistivas no país, em especial das bengalas com comando de voz, utensílio ainda em fase de testes, mas que deve chegar ao mercado nacional em breve. "Muita gente argumenta que o preço desse tipo de equipamento é elevado, mas é preciso relativizar esse tipo de afirmação. A minha prótese no pé não é cara, se me permite fazer tudo o que faço, ela se paga sozinha", garantiu o palestrante.
A 3ª Semana Ulbra da Pessoa com Deficiência acontece até o dia 31 de agosto, com uma programação variada. Entre as atrações estão oficinas, rodas de conversas e aulas de ritmos para PCDs.
Confira a programação completa em site ulbra.br/semana-pessoa-com-deficiencia/.
Marcus de Freitas Perez
Jornalista MTb 17.602
Jornalista MTb 17.602
Nenhum comentário:
Postar um comentário